quinta-feira, 28 de junho de 2012

A nós.

A mesa está lotada. Tem gente ocupando os meus dois lados, pratos e copos infinitos à minha frente. Eles contam histórias entre um gole e outro, gargalham e eu até tento acompanhar. Faço uma graça aqui, solto uma piadinha acolá, finjo interesse em um caso que nem sei. O mocinho da direita até contou algo interessante, eu retribuí com uma das minhas histórias bizarras sobre o centro de São Paulo e me esforcei na risada. Mas daí lembrei no meio dela que queria te contar essa história, essa e as outras trocentas que eu guardo na minha caixa de coisas inacabadas, junto com o nosso amor e as apostilas do francês. É que desde que a sua falta tornou-se a companhia mais frequente em todas as mesas em que sento, tudo é um pouco mais. As pessoas são mais babacas, suas histórias mais vazias, as gargalhadas mais estridentes. O som alto causa mais incômodo, essa meia-luz me dá vertigem. A cerveja é mais quente, o torto do quadro na parede desperta o meu TOC. Mentalmente, tiro todos de seus lugares e deixo sua falta correr livre pelas cadeiras, escolhendo até se acomodar numa bem próxima a mim. Porque sua falta ainda é melhor do que esta noite.

Volto pra cena. Enquanto alguém na ponta esquerda reconta uma piada batida que viu no Facebook e ao meu lado direito um namorado desdobra-se na tentativa de agradar a namorada raivosa que o pegou fitando as coxas da morena da mesa detrás, eu respiro fundo, engulo um pedaço da pizza que já esfriou e faço um brinde imóvel e silencioso ao aniversário de quando eu deixei de ser inteira.

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