terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Vinil

Ela nunca deixou as roupas no mesmo canto do quarto dele, mas sempre espalhadas ao redor da cama. O sutiã longe da blusa, a calça no outro canto em relação ao sapato. Era pra ter uma desculpa pra ficar mais tempo, quem sabe enquanto ela dava a volta pra pegar a outra peça ele perceberia que queria que ela ficasse. Ele pediria pra ela não ir, pra ela ficar e eles ouviriam o último vinil que ele comprou na feira de domingo no centro da cidade. Quem sabe ele enfim teria coragem de ser sincero consigo mesmo e entender que o mundo fazia mais sentido quando o corpo dela ocupava o espaço ao lado do corpo dele. Ela soltaria a blusa no chão, sem se importar em ir amassada para o trabalho no dia seguinte. Ela ficaria e tentaria não dizer o quanto ela esperou por isso e nem que ela prefere o vinil da semana passada.

Recolheu todas as peças lentamente enquanto ele falava amenidades. Levou-a até a porta, beijou-a e disse que a procurava. 

Ela nunca mais ouviu um disco de vinil.